domingo, 17 de julho de 2011

Era como debulhar o milho que as palavras escapavam - uma a uma, perdendo seu sentido de cadeia, perdendo sua união. Viravam pingos soltos e comestíveis, mas descontectados de uma espinha dorsal. Sentou em um banco grosseiro de madeira e observou as palavras debulhadas pelo chão: o amarelo ressecava a cada instante, e o que antes formava um sol coeso, perdia a convicção da iluminação do dia. Sabia que, antes, com a unidade, o milho se fazia manhã de sol, aro de fogo sobre a cabeça, sobre o corpo, uma liga reta de um branco leitoso que servia ao abraço das pequenas peças de ouro. Mas agora, tudo espedaçado, descobriu que os cabelos só serviam para fazer vento de si. Sem nenhuma idéia que a guiasse, permaneceu sentada no banco, mãos apoiadas no queixo, olhar de vidro fosco, tufo de esperança entre os dedos - todas as palavras suspensas em um suspiro pairavam feito aves negras contra o céu duro e esbranquiçado de um dia irreal e quente de verão.

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