sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Roxas

Tu me encosta a mão e eu tremo. Fazia tempo que não sabia o que era trepar. Tantas vezes em uma só noite. e eu treparia muito mais se tu conseguisse. ou quisesse, sei lá. As incertezas fazem parte dos nossos silêncios respirados. Tem dias que acordo ao teu lado e não sei nem como te olhar. Parece que toda a intimidade da noite louca em que nos conhecemos foi embora junto com a fumaça do último cigarro. Penso se isso tudo existiu um dia. Nesses momentos, penso se eu te quero de verdade ou se não passamos de uma série de bons acasos. Teria procura se fosse diferente, se não fosse tão fácil? A gente teria paciência, teria vontade de passar as tardes de mãos dadas em alguma praça discutindo filmes antigos, sem cigarros ou cervejas?

Não sei. Só sei que passo meus dias pensando quando vou trepar contigo de novo. Se é que vou. E se dessa vez eu vou me sentir satisfeita, para poder juntar minhas coisas, virar as costas e bater a porta, tudo o que eu nunca consigo fazer. Preciso te ver mais uma vez para juntar as peças de roupa que se perderam pelo teu quarto (suspeito que nossas meias andem transando embaixo da tua cama). Preciso fumar o último cigarro que deixamos em cima da tua mesa, bem devagar. Preciso juntar do teu pátio a barraca que contém os nossos poucos planos futuros, preciso levar embora as listas de filmes e de livros que deixei pela casa. Vou levar embora minhas palavras, meus cheiros, meu corpo. Será que assim eu desapareço para sempre?

Mas as marcas roxas dos teus dedos na minha coxa... Essas ficam. Minhas marcas em ti, as tuas em mim. Para testemunhar a força dilacerante do acaso, a descoberta do êxtase, a angústia do corpo convulso, a poesia que nunca foi dita. De resto, passo a não existir. O que fica é apenas uma escova de dentes vermelha em um banheiro mal cuidado. Celebrando, todos os dias, a potência irreal da união dos nossos corpos.

eu sei, me perdi... mas ei, só me acho em ti.

me perdi entre esses teus dentes desconhecidos, dentes que nem sei se machucam ou acariciam meu corpo. me perdi do caminho das verdades, do caminho dos pecados, do caminho do meio. hoje já nem sei o que ainda sou ou se algo faz sentido. teus dedos na minha orelha sussurram que eu que estou louca. eles me dizem que perdi. meus dedos, meus medos, meus ais e meus porquês. vazia de todas as possibilidades, vago por entre lençóis amarrotados sem saber onde pousar todos aqueles sentimentos. tenho medo de parar, de ter que abrir os olhos e não me enxergar nesse espelho que me ofereces. pior: tenho medo de me ver toda ali, nas tuas mãos, e não saber mais como se corre. desaprendi minhas pernas, meus passos; ganhei tua dança. às vezes penso que chega de correr pelos corredores no escuro. mas aí me dou conta que essa história é isso, é uma corrida no escuro. a nossa corrida, com as pernas misturadas, em direção a nós mesmos.