domingo, 24 de julho de 2011

Tar

Deitada no corpo giratório das palavras,
Com minhas mãos, quis parar a roda
De todo o mal que se deposita entre suspiros.
Pretendi encontrar o lugar
Onde o todo se realiza e há paz
- Há paz? -
Mas só encontrei morte nas tuas mãos
Em torno do meu pescoço.
Talvez a vida só desvele algum regalo
Quando os olhos de neon se fecham
E reina esse silêncio de reflexo apagado
No vidro da espera.

(A Tar es imposible llegar...)

domingo, 17 de julho de 2011

Era como debulhar o milho que as palavras escapavam - uma a uma, perdendo seu sentido de cadeia, perdendo sua união. Viravam pingos soltos e comestíveis, mas descontectados de uma espinha dorsal. Sentou em um banco grosseiro de madeira e observou as palavras debulhadas pelo chão: o amarelo ressecava a cada instante, e o que antes formava um sol coeso, perdia a convicção da iluminação do dia. Sabia que, antes, com a unidade, o milho se fazia manhã de sol, aro de fogo sobre a cabeça, sobre o corpo, uma liga reta de um branco leitoso que servia ao abraço das pequenas peças de ouro. Mas agora, tudo espedaçado, descobriu que os cabelos só serviam para fazer vento de si. Sem nenhuma idéia que a guiasse, permaneceu sentada no banco, mãos apoiadas no queixo, olhar de vidro fosco, tufo de esperança entre os dedos - todas as palavras suspensas em um suspiro pairavam feito aves negras contra o céu duro e esbranquiçado de um dia irreal e quente de verão.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Mergulhei no bico do pássaro;
Não sobrou pouso pra minha pena.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Tua noite, essa noite (dança de espelhos)

Se olhou no espelho como se
desconhecesse
o mundo de dentro.
Mergulhou em uma maquiagem vazia
Fez três marcas pelo corpo
- quem as encontraria?
Não habitava mais as planícies de si.
Se tocou com mãos de um outro
ou de uma outra, ou de uma coisa.
As pálpebras pesadas, torpor do encontro
Impossível
consigo mesma.
Mergulhou os dedos em ânsia,
entrega perdida, os olhos vagavam
Pela boca borrada, beijos soltos
Mordidas de vidro
Aquele olho lívido, ávido, crescendo fome
Numa luz de medo e sombras líquidas.
No êxtase de se perceber
Inimaginável,
Terrificante,
Dominadora,
hipnotizou um canto do reflexo com a língua
e com os mesmos dedos de si
Dedilhou o espelho com a força
de três existências comprimidas entre as pernas.

domingo, 3 de julho de 2011

desconstruimaginascer

o som incognoscível martelava o peito
como os dedos que martelam um teclado infantil
- tufos de cores, inocente descoberta.
mas o martelo cresce em metal ártico
e passa a doer no fundo dos olhos
criando imagens distorcidas despalavras
destecidas em fios de arame
(às vezes seda de frio, às vezes cobre que arde).
o som ritmado era piscar de olhos
asa de borboleta de ferro
impotentes pálpebras descontrole
desviantes imagens se depositando
lá onde tudo que toca escorre e some
- vestidos macios de mulheres, lenços de pescoço
se foi tudo para dentro do poço.
a saliva pelo canto da boca,
o êxtase de aquarelas quebradas pelo chão.

(deitou calmamente os dentes pelo piso e, sem se mover, começou a despencar)