segunda-feira, 23 de novembro de 2009

meu relógio parou, desistiu para sempre de ser antimagnético

"Vou lhe explicar duas coisas. O tempo é curto. Essa é a primeira. Para a topeira, o tempo é traiçoeiro. Para o herói, o tempo é heróico. Para a prostituta, o tempo é apenas outra peça de roupa. Se você for gentil, seu tempo será gentil. Se estiver com pressa, o tempo voa. O tempo é seu servo se você for o seu mestre. O tempo é seu deus se você for o seu cão. Nós somos os criadores do tempo, as vítimas do tempo e os assassinos do tempo. O tempo é valioso, essa é a segunda coisa. Você é o relógio."

Tão longe, tão perto
Wim Wenders

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

eu te profano.

quando ouvi, na cama úmida, sobre a tua confusão, fiquei um pouco menos temerosa. não quero as tuas certezas prévias, quero a nossa descoberta conjunta do mundo: se estamos cegos ou finalmente lúcidos, se esse sentimento ilumina o caminho ou ofusca a visão, isso tudo só poderemos saber caminhando em direção a ele. eu vivo na beira do abismo, mas ainda assim sinto medo da queda. será mesmo que fui eu quem te jogou nesse vão sem fim? é uma queda linda, eu sei. é como alice caindo infinitamente na toca do coelho, descobrindo coisas fantásticas à medida que cai, tendo pela primeira vez uma prova do que seria o mundo para o qual se encaminhava. mas eu não quero um mundo de alice para gente; nem um mundo de oz. o que eu quero é outra coisa, uma coisa tecida daquele fio imaginário que um dia derramava da lua sobre o "mar", lembra? aquele visco, aquela coisa luminosa. quero aquilo. quero um mundo de todos os nossos viscos, aliás. nossas colas para colar idéias pelo mundo, colar nossos gestos pelas esquinas, colar nossos gemidos nos campos de margaridas.

somos arqueólogos da nossa própria existência, precisamos viver pelo que acreditamos. somos em carne viva demais para nos conformarmos com pouco, somos exigentes. eu sou muito exigente, muito trágica, muito explosiva. eu sou todas as coisas que sempre me fizeram inapta nessa vida. e ao ver isso tudo, ao sentir toda essa dor, esse pulso, esse potencial para a loucura, tu me escolheu. onde todo mundo desespera, tu me sonha. queremos o nosso caos, somos máquinas-desejantes em busca do que somos. se é que somos. ou do que seremos (se é que seremos). todas as nossas passagens pela angustia são as mais lindas passagens de descobrimento, como um pequeno livro de salmos escritos com sangue do mais alto sacrifício. é isso. nós estamos vivenciando o ritual do maior sacrifício da existência: estamos sacrificando a nós mesmos para, finalmente, nos encontrar. purificando a terra, profanando a mediocridade, amando, amando, amando... pela primeira vez com as vísceras expostas.