terça-feira, 24 de setembro de 2013

Setembro
Verão em Brasília
Ninguém diria.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Da saudade que não cansa

O relógio dela parou. Desistiu para sempre de Ser.

Ficava na sala, de frente pro mar, beijava a baía e não a deixava esquecer da dentadura, dos remédios, da sopa, dos netos, do whisky, das horas, dos dias, dos anos, do tempo, do tempo, do tempo, do tempo.
Por desgaste ou por descuido, o relógio estacionou entre as horas.

Sem ritmo, naufragou devagar em um dia qualquer entre o passado e o sonho, talvez em outubro de 1931, ou no dia das mães de 55, Afinal, quem saberá onde anda o tempo quando o primeiro ponteiro travado desfigura a inócua sanidade de um hospital, dando vida a todos aqueles livros de detetive de Graham Greene e Ian Fleming?

A polícia veio buscá-la.
Procurou seu chinelo e não encontrou.
Não conseguiu fugir.
Nunca mais voltou.
Deixou para trás uma pergunta:
Seria insanidade chamar os médicos de verdadeiros polícias da vida,
autoridades que vêm prender a alma a um corpo que não mais reconhece?
Eles responderam com haldol.
Eu respondo com poemas.

Eu dei corda e pensei
Que o relógio iria viver
Pra dizer a hora
De você chegar.
Não andou e eu chorei.
Dois ponteiros parados a rir:
"São à prova d'água"
Vinte e dois rubis

A que horas você vai chegar?