segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

o céu é o limite.

Nas pretensões de um dia ou outro de sonhos azulados, me encontrei entre botões abertos de linhas inconciliáveis: onde pude pensar que esse céu se abriria assim, tão doce, para mim? Nunca tentei olhá-lo com cuidado, nunca o namorei; como assim, queria eu, uma resposta cósmica aos meus anseios, um sinal brilhante de indicação, um presságio soprado no ouvido? Um dia decidi deixar de alcançar o céu: decidi sê-lo, em toda sua infinitude, em todo seu abandono. Porque o céu não pode ser o limite: o céu é a ausência de limites, é o todo e o nada, é o impossível da existência. Senti o cheiro das nuvens e decidi que eu seria céu, para deixar de ser eu, ou de ser pretensões. Eu sinto medo do céu, mas acredito que tenha mais medo de mim - e é um segredo de flores, esse que agora eu te conto, mas o único jeito de vencer o medo é dançando com ele. Quero arrastar meus-teus pés pela sala azul, e ofuscar minha visão nessas luzinhas piscantes que estão definhando de desespero brilhado, longe de nós. Não quero alcançar as estrelas, não quero dormir numa nuvem, não quero ir morar na lua: eu quero não ser sendo céu. É uma receita de remédio para as dores não vividas: cultive as dores. Abra seu peito de modo a nunca mais se reconhecer em algum espelho e deixe que a dor inunde todos os sentimentos que se conhece. Só vai sobrar um abandono desesperador. Então, uma vez abandonados, com o corpo sem sentido, com o rosto sem imagem, um novo eu desponta: o não-eu. Agora sim, agora sim! Sou o céu. E abraço toda a insignificância da minha existência nessa terra. Quero redenção, mas mais do que isso, quero não querer nada: quero apaziguar minha existência levando ela ao limite do que eu posso suportar, e o céu é esse limite.
(...me abraço com os braços frouxos)

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