Todo momento de desgraça ou de prazer não passa de uma eternidade vivida numa ampulheta com final ao alcance dos dedos. Na passagem repentina de uma centena de nuvens, moldamos e remoldamos algo que não nos pertence: ser. Na estabilidade desencontramos a mobilidade a qual viver nos remete: condição humana do movimento incessante. De nada adianta tentar aprisionar bons momentos, como se a felicidade fosse algo palpável, ou se o prazer pudesse durar mais do que um orgasmo. Ou se desesperar e angustiar como se a dor fosse infinita. Nada é. Tudo está. Estar: é ser em um dado momento. Multiplicando seres, numa constante mudança, algo que só alcança alguma expressão em algo plástico, ou cênico. Palavras são estáticas, e todo movimento que tento tirar delas se resume a tentativas vãs de alguém que visa autenticidade, mas que não passa de um qualquer sentimental aprisionado à ordem.
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