quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Trecho

Então aconteceu a primeira noite deles. Com urgência, com a carência de cinco anos de espera. Não foi precedido pelos estímulos do amor em arte, porém entrou para o rol das melhores noites de amor da história. Nessa época já tinham experiência suficiente pra saber que não deveriam falar durante o ato, porém era inevitável não sorrir e gargalhar. Aquilo nem o destino previra. Estavam contrariando a sua história, a sua sorte. E isso traria conseqüências mais eternas do que o próprio amor. De fato o de praxe seria o cheiro de amêndoas amargas se dispersar no ar, invadido pelo cheiro do corpo, da realização. Porém quanto mais se amavam, mais forte o odor dos amores contrariados se tornava. Contrariando todos os sentimentos dele, para ela foi um alívio sentir aquele aroma no ar. Revigorou-se e o amou com mais vontade, pois tinha descoberto que mesmo consumando seu amor na carne, ele sempre seria platônico, digno de uma alma poeta.Ele não acreditava naquele cheiro, pensava ser artimanha dela, sempre tão intrigante, sempre contrariando ele, e mais interessante do que nunca, agora que mulher. O que ele não sabia era que apesar de terem vivido quase as mesmas coisas, ele talvez até um pouco mais, ela realmente tinha aprendido a se entregar, diferente dele. Ela amou outra vez, ela foi feliz, ela sofreu, ela criou eternidades dignas de caixinhas cheias de cadeados, que nem as que tivera com ele. A única diferença era que as dele foram as primeiras. As primeiras amêndoas amargas. O primeiro e, portanto, o último amor de verdade. Mas nunca o único.

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