sexta-feira, 29 de abril de 2011

As coisas que vazam

Vazou. um sentimento de saudade (do) que não veio. Como uma rachadura perfeita, o líquido transbordado escorregou como se fosse uma cócega pela pia cheia. Cheia demais, não cabia nada, nem o patinho de borracha para que as coisas ao menos fossem devidamente ridículas. O arrastar do líquido produziu uma risada triste. É isso, de novo? Só mais uma risada triste? Talvez devesse desistir de ser exploradora do mundo, caçadora das coisas raras. Talvez devesse apenas abrir infinitos potes idênticos e guardar neles as cores deveras sem graça das quais costuma se alimentar. (sempre há o recurso de colocá-las ao sol, para que brilhem um pouco e se pareçam com aquilo que ela nunca, jamais encontrou). Talvez seja isso. Beber uma boa xícara de café e viver de amor com os cigarros e os livros e os cheiros do centro da cidade. Vazar os sentimentos, deixá-los escorrer por entre as pernas para que as pernas andem um pouco mais. Mas também vazar esses olhos que endurecem, secos, para que possam escorrer algum sorriso fértil enquanto cruzam com os dela.