sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Memorando

eu não me importo que ardam, que queimem, que sangrem. ou que envergonhem, que confundam, que me mostrem a carne pulsante. não faço caso se elas aconteceram, ou se são distorções dos meus desejos e medos, se vêm em cores invertidas, se vêm sem cores, se vêm em fragmentos, se me fazem ficar nauseada, se me fazem sorrir, se sorrindo eu choro, se me tomam e me levam para outro lugar, um Agora que não é Aqui. um Agora despresente. Não ligo se nelas o momento fugaz ficou aprisionado como numa fotografia feliz, mesmo sabendo que talvez nem tudo seja sempre tão feliz como quando devolvido a nós, depois de digeridos. às vezes precisamos de tempo para apreender as experiências e dar um significado para elas, e nisso me refiro a comprar biscoitos caseiros de chocolate numa lojinha não muito distante. o que quero dizer é que não me importo com a qualidade das lembranças: a memória é uma espécie de negativo, e costuma inverter as cores e os sabores das nossas vivências; o que era doce fica azedo, o que era bruto vira modelável. o que importa é que, sem elas, não há porquê. não há quem. não existe Eu. "I need my memories. They are my documents".

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